Perspectiva
Devido ao forte El Niño de 2015-2016, a temperatura da superfície do oceano Pacífico foi a mais alta registrada durante o período de monitoramento de queimadas por satélite (2001-2015). Neste período, as temperaturas da superfície do oceano Atlântico também foram acima do normal. Juntas, as temperaturas da superfície dos oceanos Pacifico e Atlântico geram uma previsão de extremo risco de queimadas na Amazônia em 2016. Nos estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas, a previsão do Índice Sazonal da Severidade de Fogo está próxima do valor máximo desde 2001.
Esta página apresenta a previsão do período severo de queimadas para a estação seca de 2016. A figura abaixo mostra a previsão do Índice Sazonal da Severidade de Fogo (Fire Season Severity Index, FSSI, com intervalo entre 0 e 100), atualizada até maio 2016. A previsão abrange seis Estados no Brasil (Acre, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Rondônia), três Departamentos na Bolívia (El Beni, Pando, e Santa Cruz), e um País (Peru). A cor verde indica que a severidade do risco está abaixo do valor médio, enquanto as cores laranja e vermelho indicam o risco de fogo acima da média histórica de FSSI para a região. Uma descrição dos métodos, incluindo o modelo usado para as previsões, está disponível aqui.
Observações: Precipitação e Estoque de Água no Solo
Em março de 2016, as medidas do estoque de água no solo (Terrestrial Water Storage, TWS) estiveram abaixo da média histórica para a maior parte da Amazônia, uma condição que acontece quando a região recebe menos precipitação durante a época chuvosa (consistente com as anomalias de precipitação acumulada, cPPT). Os valores de TWS abaixo da média histórica são consistentes com o modelo de FSS baseado em anomalias de temperatura da superfície dos oceanos Pacífico e Atlântico.
Os mapas abaixo mostram a precipitação acumulada (cPPT, entre agosto de 2015 e maio de 2016, figuras acima) do Global Precipitation Climatology Centre (GPCC) e o estoque de água no solo (Terrestrial Water Storage, TWS, em março de 2016, figuras abaixa) obtido pelos satélites “GRACE” (NASA’s Gravity Recovery and Climate Experiment). Os mapas na esquerda mostram anomalias absolutas de cPPT (mm) e TWS (cm). Na direta, os mapas indicam anomalias normalizadas, com base o desvio padrão de dados históricos. Sem água suficiente, as árvores não podem manter a quantidade normal de evapotranspiração, reduzindo a umidade na atmosfera. Menos umidade na região significa vegetação e liteira mais secas, aumentando o risco de fogo.
Comparação Entre As Previsões FSS e Observações
Estas figuras mostram as comparações entre o FSS do modelo e observações de fogo durante os anos de 2001 a 2015 para cada região. Linhas pretas (sólidas) indicam as observações de anos passados (focos de calor via satélite), enquanto as linhas pretas (pontilhadas) mostram o valor da média histórica de todos anos. As linhas laranjas mostram as previsões de FSS de 2001 a 2015 e o intervalo (RMSE) de previsão para o ano atual (2016). Os números em parênteses correspondem aos coeficientes de determinação (r2) entre o modelo e as observações realizadas. As previsões atuais incluem dados de superfície do oceano até maio de 2016—Clique nas caixas abaixo da figura para obter as previsões de meses anteriores.
Observações de Queimadas por Satélite
O FSS é a soma de focos de queimada (ou focos de calor, (FC)) durante a época seca. Focos de calor são anomalias de radiação termal detectadas por satélite. Nosso modelo é baseado nos focos de calor do sensor (MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), um dos instrumentos no satélite terrasatélite da NASA.
Índices Climáticos: Temperaturas da Superfície do Mar
Na previsão do FSS na América do Sul, usamos dois índices climáticos que representam anomalias na temperatura da superfície dos oceanos Pacífico e Atlântico: ONI (Ocean Nino Index) e AMO (Atlantic Multidecadal Oscillation Index). A figura abaixo mostra a série temporal de ONI e AMO desde 2000.
A Relação entre os Índices Oceânicos e FSS
O modelo de previsão para o período severo de queimadas (FSS) é baseado em Chen et al. (2011), com algumas modificações. Nosso modelo de FSS foi desenvolvido utilizando os focos de calor detectados pelo sensor MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), um dos instrumentos a bordo do satélite Terra da NASA, e dois índices climáticos que representam anomalias de temperatura da superfície dos oceanos Pacífico e Atlântico: ONI (Ocean Nino Index) e AMO (Atlantic Multidecadal Oscillation Index). Temperaturas da superfície do mar entre 3-6 meses antes do período severo de queimada apresentam uma forte relação com os focos de calor durante a época seca sobre grandes áreas da América do Sul. Este período anterior ao início das queimadas nos permite prever o FSS com 3-6 meses de antecedência.
Dados
Nós usamos os dados da coleção 5 do MODIS (produto MCD14ML). Foram amostradas as coordenadas geográficas de pixels individuais de focos de calor (1×1 km resolução espacial) que possuíssem nível de confiança maior que 30%. A soma mensal de FC foi calculada para cada pixel com resolução de 0.5°, após aplicar uma correção para cobertura de nuvens. Focos de calor persistentes de acordo com observações do MODIS e pixels com queima de gás de acordo com as estimativas do NOAA Global Gas Flare Estimates foram excluídos porque a queimada nestas regiões é devida principalmente à produção de petróleo ao invés de queimadas. Também foram calculados os dados mensais de FC para cada região (seis Estados no Brazil (Acre, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Para, e Rondônia), três Departamentos na Bolívia (El Beni, Pando, e Santa Cruz), e um País (Peru). A soma de FC ao longo do período de queimadas (período de 9 mêses, centrado no mês com o maior total de FC) foi considerado o FSS anual para cada região.
O ‘Oceanic Niño Index’ (ONI) é uma anomalia trimestral na temperatura da superfície do oceano Pacífico na região Niño 3,4 (5°N-5°S, 120°-170°O). Os dados ONI foram obtidos a partir do NOAA National Weather Service Climate Prediction Center.
O ‘Atlantic Multidecadal Oscillation index’ (AMO) é uma anomalia na temperatura da superfície do oceano Atlântico (0°-70°N). Os dados AMO foram obtidos a partir do NOAA Earth System Research Laboratory website.
Modelo
Definimos o modelo empírico como uma combinação linear de dois índices climáticos amostrados durante os meses com maiores correlaçoes entre as temperaturas e FC:
FSSpredicted(x,t,τc)=a(x,τc)×ONI[t,m(x)-τONI(x,τc)]+b(x,τc)×AMO[t,m(x)-τAMO(x,τc)]+c(x,τc).
FSSpredicted é o valor esperado de FSS para região x e ano t. O parâmetro τc representa o tempo de antecedência (meses antes do pico de queimadas) quando a previsão foi feita. a e b são coeficientes que variam espacialmente e representam a sensibilidade do FSS em cada região para ONI and AMO, independentemente, e c é uma constante. Tanto ONI quanto AMO foram amostrados a cada ano, durante os meses com tempo de antecedência entre τONI e τAMO relativos ao mês em que se observa o pico de queimadas (m). Dado um valor-alvo de τc, os valores otimizados τONI e τAMO foram obtidos a partir de uma série de regressões lineares utilizando os valores de ONI e AMO em meses diferentes (com um valor de corte (mínimo) de tempo de antecedência igual a τc).
Previsão
Baseado na disponibilidade dos dados ONI e AMO e o mês correspondente ao pico de queimadas, nós encontramos uma estimativa de τc para cada região. Rodamos o modelo de previsão com os coeficientes (a, b, e c) e períodos de antecedência (τONI e τAMO) para obter a estimativa do FSS. O intervalo de confiança da previsão foi calculado utilizando uma estimativa de incerteza de 1 desvio-padrão para os parâmetros do modelo. Desta forma, nós temos um conjunto de previsões obtidas a partir de meses diferentes (apesar de possuírem intervalo de confiança diferentes).
Referências
Glossário
Agradecimentos
Este trabalho tem apoio da Fundação Moore (Gordon and Betty Moore Foundation) bolsa GBMF3269.
O trabalho é uma colaboração entre A Universidade de Califórnia, Irvine (Yang Chen e Jim Randerson), NASA Goddard Space Flight Center (Doug Morton, Niels Andela, e James Collatz), Columbia University (Ruth DeFries e Miriam Marlier), Universidade de Maryland (Louis Giglio), e Duke University (Prasad Kasibhatla).
A NASA disponibilizou focos de queimadas do sensor MODIS e a NOAA gerou os dados de temperatura da superfície do mar usados neste trabalho. As figuras, mapas, e demais conteúdos nesta pagina foram construídos usando Google Chart API , Maps API, e Fusion table API .
Aviso
As previsões do modelo nesta pagina são experimentais. O modelo não pode ser usado para previsão de queimadas individuais. O uso da informação pelo planejamento deve também usar outras fontes de informação confiáveis sobre o clima e o risco de fogo. A Universidade de Califórnia não se responsabiliza pelas conseqüências de qualquer uso de dados sobre FSS ou outros resultados nesta página.